domingo, 18 de dezembro de 2011

SEM MAIS

Assim sem mais, as coisas vão acontecendo. Assim sem mais, as coisas vão "desacontecendo". Vão acabando.

Quando o que acaba é o amor, o que fica é uma saudade profunda dele próprio. Talvez Nietzsch tenha razão. Amamos o amor e não a pessoa amada. Quando o que acaba é o amor, talvez o que reste seja saudade do que não foi, do não realizado, do que ficou no sonho, no plano, na intenção.

O amor, porém, não morre fácil, nem o faz de forma dramática, espetacular. Ele vai acabando aos poucos de doença crônica, lenta, silenciosa. O amor não acaba num relâmpago de um ato de descuido, desrespeito, desamor ou traição. O amor dá tempo ao ser amado de realizar um ato heróico e resgatá-lo. O amor dá tempo ao tempo para ver se as mágoas já tantas vezes perdoadas se apagam definitivamente.

É certo, no entanto, que o amor acaba.

Acaba todo dia pelas faltas, ausências, desencontros, pela desatenção... Pelo desassossego. Amor não combina com coisas que tais. Neste espaço, coitado, fica desconfortável, sofrido e vai morrendo devagar, mas segue até seu último momento crendo no melhor. O amor morre crendo que alguma coisa inesperada irá acontecer e curá-lo. Definha na esperança.

Quem ama não precisa ter medo de morte súbita, violenta, brusca. Não. O amor de quem ama, morre lentamente e quando se vê, já não é mais amor. Doendo todos os dias, acostuma-se com a dor e aos poucos já quase não se sente que dói, mas um dia acorda-se sem dor mesmo!

Não nos enganemos contudo. Todos que amaram e deixaram de amar sabem o dia exato, em que seu amor por alguém começou a morrer. Sabemos o preciso momento, em que o brilho começou a se apagar como luz de teatro que vai apagando de mansinho. O amor não morre de morte espetacular, mas diz quando começa a se despedir.

Um dia, por motivo recente, ou não, um sinal vindo não sei bem de que parte do nosso corpo, pensar ou sentir, nos diz que já não é mais a mesma coisa. Pronto! A partir daí, observamos o fim se aproximando lentamente. Muitas vezes intensificamos a nossa luta por ficar, para salvar o nosso amor, mas sabemos que será em vão. Nos debatemos sem sucesso...

Outras vezes, apenas nos deixamos ir. Não dizemos frases de efeito, não gritamos, não brigamos, apenas, como afogados, nos entregamos por extremo cansaço ao mar e sem resistir deixamos que a água entre em nossos pulmões. Não escrevemos mais nenhuma outra carta de despedida. Não fazemos gestos bruscos, continuamos a sorrir, a cumprimentar, a conversar... Até mesmo a nos dar. Só que já não sentimos, nem sofremos. E logo já não desejamos... Nem lembramos!

Triste, não!?

3 comentários:

  1. O amor é um desses mistérios, mas a sua reflexão em torno do fim é bem bacana, um quadro impressionista em torno de um tema tão ... dolorido. Me lembrou Vinícius - "o amor é a coisa mais triste quando se desfaz". E tb Tomzé: "o amor é velho, velho, velho e menina, menina, o amor é trilha de lençóis e culpa,medo e maravilha".

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  2. Muito bonito. Agora, permitam-me discordar de vocês - e até do poetinha (que ousadia!). O amor não se acaba, apenas adormece. Às vezes, para a vida inteira se ninguém o acordar.

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  3. Infelizmente, Rafael, o amor morre sim!

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