segunda-feira, 28 de junho de 2010

ANIVERSÁRIO

"A vida é tão rara", então comemoremos!

Ontem fiz 45 anos e tanta coisa já não é mais, nem mesmo parecida, com o que já foi... Fiquei trinta quilos mais gorda, centenas de fios brancos mais clara, umas boas dúzias de rugas mais encolhida. Agora as costas doem, as pernas doem, os joelhos não me deixam mais correr e cortar as unhas dos pés está se tornando uma tortura. As chances de arranjar um namorado bom e homem ao mesmo tempo se reduziram a parcos 20%. De minha adolescência para cá, os homens da minha idade ficaram meio perdidos, meio malucos, meio sem saber para que servem e passaram a namorar as adolescentes, que como eles, ainda não sabem bem quem são, nem para onde vão e por isso, inclusive, namoram com eles, ou seja: me tornei, quase que irremediavelmente, uma tia. Tão diferente da juventude quando chovia rapazes bonitos e simpáticos...

A alma, no entanto, segue mais serena, a tolerância um tantão aumentada, a paciência... Bom! A paciência diminuiu um pouco para umas coisas e aumentou para outras tantas. O tempo dedicado a coisas sem importância diminuiu muito e aumentou exponencialmente para coisas importantíssimas como "ver a grama crescer", ou olhar para minha filha. Apareceu um certo gosto por estar só. Ficou confortável e necessário estar só por uns momentos.

Consegui entender, finalmente, o chavão "nem tudo é completamente bom ou ruim": umas baforadas de charuto depois de um jantar excepcionalmente bom com alguém excepcionalmente agradável pode ser tudo de bom. Fumar regularmente é tudo de ruim. Líderes bonzinhos são péssimos, quando tudo que se precisa é de um bom e sonoro murro na mesa. Líderes cruéis são bons para fortalecer nosso caráter ou para nos "encorajar" a buscar lugar melhor. Nem sempre estar certo é bom, às vezes o bom é estar em dúvida. E com estes anos todos sustentados por uma frágil coluna e um velho espírito, eu duvido das certezas da minha adolescência.

Já não odeio os americanos, nem amo tanto os europeus. Não acho mais que a baiana é a mais linda das mulheres, mas continuo crendo que a Bahia é tudo! Inclusive uma nação viva dentro de outra, a brasileira. Continuo me emocionando, às lágrimas, com a execução do Hino Nacional e achando que todo brasileiro que encontro fora do país é uma aparição e é meu irmão. Continuo amando e acreditando no Brasil.

Sapatos, agora, só se forem confortáveis, portanto caros! Exceção para as Havaianas. Sair, só se for para ser bom, me divertir muito, rir muito, me alegrar muito, não para cumprir um ritual que diz que todo final de semana deve ser badalado.  Sexo, idem! Roupas só as que possam durar mais de cinco anos e acomodar confortavelmente os trinta quilos a mais. O que significa dizer caras!

Amigos só os que não me encham o saco com datas, eventos, casamentos, formaturas ou batizados, mas que tenham segurança da minha presença nos momentos cruciais. Descobri com o passar do tempo o valor de uma boa rede de amizade. Continuo, no entanto, tendo poucos amigos.

E tomei conta de três lições fundamentais: consciência do que se faz é metade da mudança para um jeito de fazer melhor, coerência é a chave para criar filhos e liderar pessoas e exigência excessiva é a forma mais dolorosa para se matar o que de puro, original e criativo há em alguém.

Eis que envelheço...

2 comentários:

  1. O retrato fiel e poético de uma mulher madura.
    Parabéns!

    João

    PS: Viu!! Você nem falou em revolução...

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  2. Parabens Valéria!

    Sorry for the late post
    (better late than never)

    Gugu

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