quinta-feira, 6 de maio de 2010

NOSSA FINITUDE

Tenho pensado sobre a vida de minha mãe e minhas tias. E como vê-las envelhecer tem me afetado.

Tenho pensado sobre um fenômeno novo para nós no Brasil: o envelhecimento de nossos pais e seu sofrimento por doenças que antes nem mesmo conhecíamos.

Lembra que há, apenas, uns 20 anos atrás, as pessoas morriam com uns 60, 65 anos de infarto fulminante ou AVC e todo mundo achava normal? Pois eu nem me lembro mais. Agora normal é viver uns 75-80 anos e indo a bailes da "terceira idade" e caminhadas na praia. Parece que já estou acostumada a esta nova realidade e me custa lembrar daqueles tempos de viva curta.

Pois é! O que me assombra neste aumento da longevidade, é o fato de que passamos a presenciar as mudanças determinadas pelo tempo na vida de quem amamos e as perdas que vão desde a cognição até a força física. É como se de uma década para outra, passássemos a ser obrigados a conviver com uma nova dor: a de termos de vivenciar o crescente "não poder" dos nossos pais, tios, idosos da família e seus amigos.

É uma dor nova e estranha, ver minha mãe não poder mais andar mais rápido que eu, que desde sempre fui meio mole para andar, ou vê-la se recusar a fazer coisas que adorava como compras no mercado com a justificativa de que está cansada. É tão difícil ver que ela agora - muitas vezes - delega o comando da sua cozinha à empregada e que já não me ouve chamar "maiiiiiinhaaaa!". Pior: é duro ver que ela já não mais se lembra bem das coisas e faz - vez por outra - confusões incríveis!

Parece uma sessão de tortura ter que assistir impotente a nossos pais e parentes deixarando de ser como sempre foram. Para mim é terrível, porque as mulheres da minha família são incrivelmente ativas... E estão deixando de ser assim. É como se estivessem indo embora aos poucos... Bem aos pouquinhos.

E tudo isso nos põe diante de uma experiência ainda mais nova: a nossa própria finitude. Olhamos para eles e nos vemos. Olhamos e vemos o que nos irá acontecer logo, logo. E só Deus sabe se com a sorte de nos acontecer de findarmos com saúde. A saúde que nossos pais têm, que nos parecem ter ou tinham.

O envelhecimento no Brasil é um fenômeno complexo, novo e desconcertante para uma sociedade tão recente, tão inexperiente, tão sem saber o valor do velho. Uma sociedade que nunca foi velha e agora se posta diante de bailes, padarias, bancos, aviões e mundos cheios de idosos... Cheios do que será futuro!

Enquanto isso, os antropólogos e sociólogos brasileiros estudam em teses inintelegíveis "A influência da dança da tribo de índios tupipiriris na transversalidade cultural da produção artística da sociedade tribal Angolana residente no Brasil do século XVII".

Ou seja meu velho, minha velha... Só rindo! E que Milton Santos nos socorra lá do céu!

Um comentário:

  1. Acho que você deveria fazer um risoto para os amigos e lembrar que o que se leva da vida é a vida que se leva. Isto tudo a bordo de uma Peugeot Pick up.

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